Hoje, estou correndo, não tenho tempo de escrever, apesar das palavras estarem aqui saltitando em minha cabeça.
Coloco então um texto verídico, sobre um amigo muito especial.
Escrevi há algum tempo, vale a pena.
Dizem que brasileiro é apaixonado por carro, e isso não se pode negar, tem sempre um homem alisando um automóvel aqui e outro dando um trato lá, mulheres lindíssimas em seus carros importados, ou nacionais mesmo, que são o que realmente importa na vida delas.
Com a ligação afetiva e o excesso de cuidado com esse “meio” de transporte, é arriscado até a namorada pedir para aquele namorado muito atencioso com o veículo, escolher entre ele ou ela, porque a resposta pode ser: _ Vou ficar com saudades amor!
Deveria ser um utilitário, mas se tornou parte da família, alguns gastam mais com o carro do que com si mesmo.
É um tal de encerar, polir, lavar, cuidar, trocar os forros dos assentos, tunar, usar toda tecnologia de aspiradores, vaporetos e seja lá mais o quê for necessário para tornar o “ amigo” impecável.
Algumas mulheres até se interessam mais pelo carro do que pelo conteúdo... Como diria o quase poeta, Lulu Santos “...Assim caminha a humanidade...”.
Mas o interessante dessa história é que tenho um amigo que pode ser visto como oposto desses “brasileiros apaixonados”, ele até gosta de carro, é inteligente, vai a feiras de automóveis e esta sempre ligado a inovações, mas não perde a tarde de sábado para deixar o lustre impecável, e também não reclama se alguém deixou cair biscoito no banco de trás.
Deixa que os amigos tomem cerveja dentro do carro enquanto ele dirige e não leva o veículo a revisões periódicas, afinal ele sim trata o “bicho” como meio de transporte.
Mas como toda máquina precisa de uma revisãozinha de vez em quando, o carro desse meu amigo pediu socorro, há alguns meses atrás, e ele muito prestativo e um pouco incomodado com os desgastes dos amortecedores e das molas, levou-o a uma oficina conceituada.
Tudo muito rápido como anunciado, e lá se foi ele em seu carro branco, feliz da vida, para sua rotina de trabalho.
Antes da troca as molas duraram tanto tempo, que ele nem se lembrara onde e quando havia trocado, e essa era a nova expectativa, se preocupar com seus outros afazeres e deixar o mecânico para uma próxima visita daqui a um ano quem sabe.
Mas o carro começou reclamar antes do esperado, sabe quando você pisa em uma pedra e um vestígio desta, entra na sola de seu sapado, essa sensação imensurável, com um pedregulho tão insignificante, pois é.
Desde que saiu da oficina, essa sensação de uma pedrinha grudada no carro o perseguia, não falo de um chiclete na sola de sapado, aquele que derrete todo e que sai grudando pelos tapetes. _ Não, falo daquela faísca de pedra incomodativa, mas que pela correria você quase não tem tempo de olhar em baixo do sapato.
E assim seguia seu caminho, corre pra lá, trabalha pra cá, e nada de conseguir saber o que parecia uma pedrinha enroscada em uma das molas do carro. Talvez ele tivesse se acostumado com o desgaste anterior, e agora que tudo estava bem pensava ser um incomodo pela novidade.
Bem o fato é que meses depois ele passando por uma outra oficina mecânica resolveu verificar o que realmente estava ali grudado.
E pasme, nem o chiclete referido em figura de linguagem, nem a pedrinha, e nem a novidade da mola mais forte e eficiente.
Quer saber o que estava grudado ali, era o alicate de pressão, sim, esse mesmo, o utilizado para inserir a nova mola no carro e que não foi retirado.
O que esse meu amigo não sabia, é que o mecânico que o atendeu era um novato, recém contratado que forjara experiência.
E que fez a troca falando com um amigo seu mais experiente ao telefone, pois nunca fizera isso antes, e ao trabalhar pensava “Se não me engano basta ver a referência impressa nas molas e conforme as letras esse deve ser o sentido de colocação das mesmas, mas peraí, por norma a parte mais junta fica em baixo! é para ser "ativada" apenas no final do curso do amortecedor! Vixe, tomara que isso funcione”...
Com tanta confusão assim, ele acabou esquecendo a ferramenta ali grudadinha. E esse meu amigo que não é nada apegado ao carro, acabou rindo disso tudo, e hoje tem um alicate de pressão fortíssimo que aguenta muito tempo agarrado a uma mola.
E o dono da primeira oficina, aquela conceituada, nem deve saber para onde vão seus alicates.